terça-feira, setembro 10, 2013

Crise e reação - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/09

Quando a crise internacional estourou, em setembro de 2008, foram tomadas aqui várias medidas corretas. O problema foi não ter sabido nos anos seguintes sair das ações de estímulo a tempo e entender a diferença entre o que é permitido numa emergência e o que é solução permanente. Há duas etapas na resposta brasileira à crise financeira mundial.

O GLOBO tem apresentado nos últimos dias uma série de ótimas reportagens, entrevistas e artigos sobre a crise que estourou exatamente há cinco anos; em setembro de 2008. O pais estava crescendo naquela época a 6,6%, se fosse calculado o acumulado nos quatro trimestres até aquele terceiro trimestre de 2008. E, no ano de 2009, o PIB foi para -0,3%. Mas, em 2010, cresceu fortemente e aí era a hora de desativar alguns dos mecanismos de estímulos.

A primeira etapa da reação à crise foi a rapida decisão do Banco Central, lembrada na entrevista com o ex-presidente do BC Henrique Meirelles. O BC liberou compulsório em grande volume para aumentar a capacidade dos bancos de oferecer crédito, emprestou reservas cambiais para que os bancos socorressem empresas que estavam encrencadas com derivativos cambiais. Medidas emergenciais bem sucedidas.

As empresas tinham feito fortes apostas na queda do dólar e ele subiu. Foram socorridas pelo BNDES, que incentivou a fusão de empresas, como aconteceu com Votorantim e Aracruz, e Sadia e Perdigão.

O problema foi depois da emergência. Quando o país retomou o crescimento, em 2010, era hora de reduzir esses estímulos, mas, no embalo da campanha eleitoral, eles foram mantidos, e o país produziu uma bolha de crescimento, ambiente favorável à eleição da presidente Dilma.

Com isso, o ano de 2011 começou com a inflação muito alta. De novo, o BC agiu corretamente quando elevou os juros. A inflação caiu. Mas o BC se contentou com a taxa alta demais, aceitando que ela se acomodasse em torno de 6% e 6,5%.

Medidas emergenciais, como empréstimos do Tesouro para financiar bancos públicos, viraram rotina e criaram o monstro que nos assombra e que chega a R$ 400 bilhões. Incentivos fiscais foram mantidos por tempo demais e de forma muito questionável com a escolha de setores a serem beneficiados. As operações de socorro de empresas que estavam em apuros viraram um grande programa de incentivo de compras de umas empresas por outras e de entrada do BNDES como sócios das escolhidas. Nos frigoríficos, a pior das escolhas foi o Independência, que quebrou meses depois de virar sócio do BNDES.

Foram as decisões do segundo momento da crise, depois de passado o pior, que produziram distorções que vivemos hoje, de baixo crescimento, inflação alta, déficits da balança comercial e das transações correntes, alta da dívida bruta e perda de credibilidade dos indicadores fiscais.

O ex-presidente do BC errou num ponto em sua entrevista. Foi quando disse que, antes de assumir o BC, o país tinha uma inflação mensal de 2,2%, em novembro de 2002, dando a entender que foi o seu período que resolveu esse problema e que, a partir daí, é que o Brasil passou a valorizar a inflação baixa. Essa conquista foi anterior e ele sabe. A inflação de 2000 foi de 0,49% ao mês, em média; a de 2001, 0,62%, em média. Alta, mas ficou pior no fim de 2002, pelo temor do que o governo Lula faria. Continuou subindo mais nos primeiros meses até que a ação do governo restabeleceu a confiança na política econômica. Ou seja, eles resolveram um problema criado por eles mesmos, mas a estabilização — como todo mundo sabe — já havia sido conquistada e o país já aprendera a valorizar esse avanço.

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